Crise: impacto da falta de educação financeira na sociedade

30-06-2013 20:19

Portugal, entre muitos outros países europeus e não só, encontra-se em crise mas o que se encontra por trás da crise e o que é realmente a crise? No momento que actualmente atravessamos culpamos os políticos, o sistema bancário, entre outros. Não digo que tudo o que tem sido feito por estas partes tenha sido correcto e não tenha tido influência na situação actual, mas acredito que o nosso maior problema é a falta de educação financeira. Se nos educarmos financeiramente passamos a depender de nós próprios e a realmente ter controlo sobre a nossa própria vida.

Para mim é, sem dúvida, a educação que recebemos a culpada pela situação que atravessamos, fomos educados a trabalhar pelo dinheiro. Simplesmente nos ensinaram que temos de estudar, tirar boas notas para nos tornarmos em excelente profissionais e podermos ganhar muito dinheiro. Aquilo que não nos ensinaram mas que é muito importante e agora verificamos isso é, como administrar o dinheiro. De que adianta ganharmos muito hoje se o gastamos todo em coisas inúteis e amanhã não temos nem para pagar as despesas mais básicas?

Eu venho de uma família de poucas posses e também eu cresci “destinada” a seguir o ciclo, estudar, tirar boas notas e tornar-me numa excelente profissional para poder ganhar muito dinheiro. Tenho um enorme respeito e admiração pelos meus pais mas eles são um verdadeiro exemplo de pessoas escravas do dinheiro. São pessoas extremamente trabalhadoras mas que não possuem mais do que o suficiente para ir pagando as contas.  “O dinheiro serve apenas para nos servirmos dele” Estas palavras foram ditas pelo meu pai e eu concordo sem dúvida mas o que é que realmente significam? Segundo a educação que recebi significa trabalhar para ir tendo o suficiente para pagar as contas mas nesse caso não estamos a servir-nos do dinheiro mas sim a deixar o dinheiro servir-se de nós, assim não somos mais do que escravos do dinheiro.

Trabalhamos com todos os tostões já destinados, deixamos o dinheiro influenciar toda a nossa vida, tudo gira em torno do dinheiro e se há alguma despesa inesperada ou algum rendimento inferior ao habitual entramos em colapso. Trabalhamos mais horas na esperança de um aumento que se acontecer provavelmente resultará no aumento das despesas, porque quanto mais ganhamos mais gastamos. Usamos créditos para pagar créditos e a cada dia nos vamos “enterrando” mais, culpamos os bancos, o baixo salário, os impostos e até mesmo a publicidade daquelas férias de sonho que nos deixaram cair em tentação, quando na realidade os únicos culpados somos nós por não sabermos fazer uso do dinheiro. O melhor investimento que podemos fazer é na nossa educação e esse deve ser um investimento contínuo, nunca devemos deixar de aprender. Esse é um dos nossos grandes problemas, fecharmo-nos ao conhecimento.

Estou muito preocupado pelo fato de que gente demais se preocupa excessivamente com dinheiro e não com sua maior riqueza, a educação. Se as pessoas estiverem preparadas para serem flexíveis, mantiverem suas mentes abertas e aprenderem, elas se tornarão cada vez mais ricas ao longo dessas mudanças. Se elas pensarem que o dinheiro resolverá seus problemas, receio que terão dias difíceis. A inteligência resolve problemas e gera dinheiro.” – Pai rico, pai pobre

A primeira regra básica para não entrarmos em colapso económico é: As despesas nunca podem ser superiores aos rendimentos.

Algo que devíamos aprender desde pequeninos é a saber gerir as nossas despesas para sabermos ter auto-controlo e sermos nós a dominar e não a deixarmo-nos dominar pelas despesas. Não digo com isto que deveremos desistir do que queremos apenas porque não termos dinheiro para adquirir mas sim que devemos criar alternativas sustentáveis para o conseguir ao invés de optar pela solução, teoricamente mais simples mas que sempre levará a maior complicações e despesas, que é um empréstimo. Se já nos encontrarmos com dívidas precisamos de saldar essa dívida para conseguir estabilidade financeira mas não ao criar mais dívidas. Acumular dívidas para pagar outras dívidas é continuar a cavar e as dívidas simplesmente continuarão a aumentar.

“Se você descobre que se enterrou num buraco… pare de cavar” - Pai rico, Pai pobre

Se o ordenado que recebemos não é suficiente para pagar todas as contas temos de encontrar opções e resistir à tentação de simplesmente usar as suas poupanças para pagar despesas inesperadas. Iludimo-nos dizendo que no próximo mês iremos repor esse dinheiro, mas se no próximo mês continuarmos na mesma situação acabaremos não só com todas as poupanças como no mês seguinte não teremos solução. Devíamos usar essa pressão para sermos criativos, começar por tentar reduzir as despesas e procurar alternativas de rendimento extra. Por exemplo, em vez de nos concentrarmos em horas extra na expectativa de uma promoção podemos tentar investir em nós mesmos e criar um negócio próprio. Todos temos algo em que nos distinguimos, apostemos nisso. Temos jeito para cozinhar? Carpintaria? Costura? Pintura? Sirvamo-nos disso para nosso proveito, desfrutemos de fazer algo que gostamos e ainda poder obter rendimento com isso. Temos de ser mais fortes que toda a pressão que nos rodeia, caso contrário tornamo-nos escravos da sociedade e de nós próprios em função do dinheiro. O maior problema da crise é a falta de educação financeira.

A crise é simplesmente uma questão de adaptação e evolução. O negócio que nos anos 60 foi um êxito agora seria um fracasso, temos de saber usar a evolução a nosso favor em vez de simplesmente cruzarmos os braços. Não faria sentido actualmente investir, por exemplo, em candeeiros a petróleo, foi em tempos um excelente negócio mas que agora não traria prosperidade para quem nele investisse. É necessário acompanhar a evolução e criar ou reinventar negócios. Até pode parecer uma ideia muito simples mas se poderá trazer lucro só temos de arriscar e investir nessa ideia. Temos de dar uso à nossa inteligência financeira, para muitos, algo adormecido em função da educação reprimida sobre o dinheiro que recebemos mas que todos temos capacidade de desenvolver e usar a nosso favor.

 

É possível desfrutar da vida se soubermos construir uma economia sustentável e próspera, agora se ainda não tendo qualquer domínio sobre as nossas economias quisermos simplesmente aumentar despesas, por exemplo, para irmos de férias, teremos como resultado uma felicidade momentânea que depois resultará num grande problema. Outro grande problema que enfrentamos é a inveja, se o vizinho tem também temos de ter, se o vizinho vai de férias também temos de ir, está na altura de passarmos a viver a nossa vida sem nos preocuparmos em viver a dos outros. Temos de saber o que queremos e o que não queremos, se conseguimos ou não tudo depende do quanto acreditarmos e das soluções que criarmos. O nosso maior problema é querermos aprender a andar de bicicleta sentados no sofá.

“As emoções são o que nos torna humanos. Nos tornam reais. A palavra "emoção" representa energia em movimento. Seja sincero a respeito de suas emoções e use sua mente e suas emoções a seu favor, não contra você.” – Pai rico, pai pobre

Este artigo foi escrito após a leitura do livro “Pai rico, pai pobre”, assim que comecei a ler de imediato me identifiquei com o conteúdo. Apesar de ter uma mentalidade diferente de muitas pessoas no que toca a dinheiro ainda não percebia em concreto nem tinha bem definido o meu ponto de vista, as minhas ideias entravam em conflito com a educação que recebi. Este livro ajudou-me sem dúvida a ter uma visão mais clara e também a reafirmar as ideias que já tinha. Recomendo a leitura deste livro, aliás não só deste livro, recomendo a leitura em geral. Devíamos passar mais tempo a ler livros, conhecer diferentes pontos de vista e dar uso ao nosso cérebro para aprofundarmos as nossas ideias em vez de simplesmente seguirmos o que nos tentam impor.

Acredito que o período que atravessamos não se trata simplesmente de uma crise económica mas de algo muito mais grave que é uma crise psicológica. Deixámos de acreditar em nós próprios e nas nossas capacidades ao fecharmos as portas à criatividade. Despertemos o génio criativo que temos dentro de nós e passemos a olhar com mais simplicidade para o que nos rodeia, na dúvida aprendamos mais com as crianças, elas sim são um belo exemplo de simplicidade e criatividade.

Deixemos de usar a falta de tempo e de dinheiro como desculpa, o que nos falta mesmo é vontade, usemos a nossa vontade e demos asas à criatividade e conseguiremos tudo o que desejamos :)

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