Acreditar

23-05-2013 22:10

Sei que para muitos o mundo se tornou um lugar perigoso, cheio de pessoas invejosas, gananciosas, falsas e rancorosas, quer dizer, as pessoas é que tornaram o mundo assim, mas também sei que existem pessoas honestas e bondosas. Apesar de para muitos eu ser apenas uma “louca sonhadora” eu acredito sempre no bem das pessoas, acredito que todos merecem uma segunda oportunidade porque todos cometemos erros, uns de um modo outros de outro mas quem nos julgamos nós para achar os erros dos outros piores que os nossos? Por mais grave que tenha sido o erro cometido eu acredito que se deve dar uma nova oportunidade, acredito que mesmo que se tenha cometido um acto de maldade ainda existe bondade dentro da pessoa.

Eu acredito que essa bondade existe dentro de todos nós e por vezes anda simplesmente escondida à espera de alguém que a desperte mas para conseguirmos efectivamente despertar esse interior temos de perceber o que levou essa pessoa a optar por tais caminhos. O que leva um adolescente a assaltar uma casa? O que leva uma mulher a raptar uma criança? O que leva um homem a assassinar uma pessoa? Eu acredito que perceber o porquê é a chave para despertar a mudança na pessoa. (Ler mais: porquê?)

Imaginemos, por exemplo, uma criança filha de pais alcoólicos e drogados, os pais raramente estavam em casa e quando estavam mantinham discussões acesas e violentas. Devido ao ambiente complicado em casa a criança criou conflitos na escola com outros colegas e desrespeitou os professores. Os colegas punham-na de parte e para os professores não passava de uma criança mal-educada. Foi crescendo e a sociedade foi-a pondo de parte achando que nunca seria melhor do que aquilo que os seus pais foram. Agora peço que reparem apenas num pequeno mas importante pormenor, “criança”. E o que é uma criança? Nada mais que um ser ingénuo que retém os ensinamentos que lhe são transmitidos sem ter noção do correcto ou do errado. Para a criança o discutir, roubar ou usar drogas era algo normal pois cresceu nesse ambiente. Mas será a culpa da criança? Como se pode sequer pensar em culpar uma criança pelo que quer que seja? As acções das crianças nada mais são que reflexos das acções dos adultos que as rodeiam portanto os culpados são os pais mas também são os professores, os vizinhos e outros familiares que estavam ao corrente da situação mas que se limitaram a ignorar. A realidade é que directa ou indirectamente a sociedade empurrou essa criança para se tornar naquilo que os pais foram. Ninguém se importou, limitaram-se a ignorar e deixar que a criança seguisse pelo mesmo caminho que os seus pais. Pena que achemos tão fácil simplesmente virar as costas e agora eu pergunto: e se esta criança fosses tu? Não gostarias que alguém acreditasse em ti e te ajudasse?

Se alguém acreditasse que esta criança poderia ser algo mais do que mais um alcoólico drogado a vaguear por este mundo ela poderia realmente ter sido mais que isso, mas puseram-na de parte, não acreditaram e, pior que isso, fizeram-na convencer-se de que não tinha valor e que não seria nada mais do que isso mesmo. A sociedade opta pelo que considera o caminho mais simples, rotula as pessoas como maldosas, malucas ou qualquer outro rotulo que lhe dê jeito e simplesmente exclui essas pessoas mas pergunto-vos eu: será essa uma solução ou somos simplesmente demasiado egoístas para realmente querer ajudar?

Tive conhecimento de um caso de um rapaz que matou o próprio pai. O que pensa a sociedade? “O rapaz é maluco” E que tal pensar primeiro no porquê? O que terá levado um miúdo a cometer tal acto? O rapaz era vítima de abusos sexuais por parte do pai. “Então porque não pediu ajuda?” O que me entristece mais é isso mesmo, ele pediu ajuda e sabem o que fizeram? Limitaram-se a confrontar o pai o qual negou a história. E o pesadelo continuou, agora pior que nunca pois ninguém o ajudou. Quantas pessoas à volta sabiam que algo estranho se passava e mesmo depois de o rapaz ter tido coragem de pedir ajuda o ignoraram mas agora se acham no direito de o julgar? Não estou com isto a dizer que acho correcto que ele tenha cometido tal acto apenas que não temos o direito de o julgar, só ele sentiu na pele, só ele sabe o quão desesperado se sentiu para chegar a tal ponto. E agora pergunto-vos: o que vai ser o futuro deste rapaz? Todos lhe viraram as costas quando ele precisou. Deverá ser mais um a ser excluído da sociedade pois quem vai dar uma oportunidade a alguém que cometeu tal acto? Quem vai acreditar no bem que existe dentro daquele rapaz? Por isso eu pergunto, não teremos nós culpa também? Se um simples alguém tivesse acreditado no rapaz e o tivesse ajudado antes que o desespero de tanto sofrimento e de ser ignorado tomasse conta da sua mente, se alguém tivesse dado um passo em frente em vez de simplesmente virar as costas este rapaz teria uma hipótese de não ter de cometer tal acto. Mas a sociedade não só lhe virou as costas como agora lhe fecha a porta… É tão mais fácil julgar, apontar o dedo, excluir e afastar as pessoas…

Felizmente ainda há pessoas que acreditam, certamente conhecem ou já ouviram falar de alguém que optou por maus caminhos e muitos diriam que estava num caminho sem volta mas houve alguém que viu além do que os olhos dos demais viam e acreditou na bondade que existia dentro dessa pessoa, acreditou de tal forma que fez essa pessoa acreditar em si mesma e deu-lhe força para mudar.

 

Eu acredito que depende de todos nós, que todos temos a possibilidade de ajudar a recompor o nosso mundo, de afastar a maldade do coração das pessoas e de lhes fazer descobrir o bem que existe dentro delas. Acredito também que nunca é tarde demais para uma segunda oportunidade, se nós acreditarmos e fizermos esse outro alguém acreditar em si próprio também. Eu acredito que as pessoas podem mudar porque todos nascemos honestos e inocentes e é a interacção com outras pessoas que nos torna diferentes e se essa interacção por vezes nos leva por caminhos mais escuros também pode levar por melhores caminhos e por isso temos de criar melhores laços de interacção, partilhar mais honestidade, mais solidariedade, dar mais atenção aos outros em vez de sermos tão egoístas. Precisamos de mais amor e para termos mais amor temos de partilhá-lo mais, amor é um sentimento que quanto mais se dá mais se tem por isso não tenhamos receio de o partilhar.

Eu acredito porque sei que o verdadeiro interior de todos nós é simplesmente amor mas que por vezes nos deixamos levar por outros caminhos que nos deturpam a mente e nos afastam de nós próprios.

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