Mentalidade vs Evolução

21-08-2013 20:36

Na minha opinião vivemos actualmente uma fase contraditória. Por um lado vivemos uma enorme evolução tecnológica, por outro, considero que vivemos uma fase de enorme regressão psicológica. Evoluímos a nossa mentalidade em relação à ciência e tecnologia mas regredimos em algo que considero muito mais importante que é a nossa mentalidade face a nós mesmos.

Como seres humanos que somos possuímos algo chamado cérebro. O cérebro é fantástico e é o responsável pela nossa evolução. Eu considero que não existem verdades absolutas, se existissem então não existiria evolução. Algo só é absolutamente verdadeiro face à mentalidade que temos perante esse algo em determinada altura. Por exemplo, Aristóteles defendeu a teoria do geocentrismo, na qual a Terra era o centro e os outros planetas e o Sol giravam à volta dela. Naquela altura essa era considerada a verdade absoluta até que alguém duvidou dessa teoria. Muitos séculos mais tarde, Nicolau Copérnico defendeu e sustentou com estudos matemáticos a teoria do heliocentrismo, na qual o Sol é o centro e os outros planetas giram à volta dele. Não pretendo aprofundar isto, aquilo que pretendo salientar deste exemplo é simplesmente que só foi possível descobrir novas teorias quando se duvidou da actual. Quanta crueldade e desprezo constatamos que os responsáveis por novas teorias que hoje consideramos verdadeiras foram alvo na sua época porque a mentalidade das pessoas não estava, nem se dispunha a estar, receptiva a novas teorias. Acho que se há algo que devemos perceber ao longo da história é que o factor que permitiu a evolução foi a mudança de mentalidades.

Eu considero que os livros são combustível para o cérebro, são o que o alimenta na procura de mais conhecimento mas também reparo que muitas pessoas tentam basear a sua vida com tudo o que lêem, não porque concordam mas porque querem arranjar desculpas para quando as coisas não correm bem. Se a pessoa optou por fazer o que estava escrito no livro então a culpa é dessa pessoa e não de quem escreveu o livro. Ainda assim há quem compre livros e livros à procura de ideias milagrosas que nunca encontrarão enquanto a sua mente não se abrir para realmente valorizar o conteúdo do livro ao invés de se limitar a ler. Os livros servem simplesmente para dar a conhecer novas ideias e cabe-nos a nós aprofundar essas ideias e definir o nosso ponto de vista sobre as mesmas. Infelizmente a fase de preguiça mental que atravessamos leva muitas pessoas a seguir literalmente tudo o que lêem nos livros sem fazer qualquer tipo de reflexão sobre o impacto que isso terá nas suas vidas. Não digo com isto que não existem excelentes ideias nos livros apenas que se nos baseamos nelas deveria ser porque vemos algum fundamento ou concordamos com essas ideias e não simplesmente porque, por exemplo, é um best-seller e se vende muito é porque deve ser bom.

Ultimamente tenho lido mais e tenho procurado saber mais sobre autores que são para mim uma referência e tenho-me deparado com afirmações desses autores com as quais não concordo. Isso não significa que discorde de todas as restantes ou que deixe de os considerar referências e muito menos que passe a concordar simplesmente porque os considero referências. Respeitar e ter alguém como referência não significa necessariamente concordar integralmente com essa pessoa.

                    

Ter alguém como referência é muito diferente de ser fanático. O fanatismo leva a atitudes extremas e muitas das vezes provoca divergências entre as pessoas chegando mesmo em alguns casos a levar esses fanáticos a abdicarem da sua própria personalidade em função da pessoa pela qual se tornaram fanáticos. É essa a realidade que infelizmente agora vivemos, demasiado fanatismo, as pessoas abdicaram delas próprias em função de outro alguém. Tornaram-se mentes vazias e de tal extremo que cultivam o ódio ao invés do respeito. Todos acham que temos de gostar do mesmo, de pensar o mesmo, de ser o mesmo, mas de que adianta sermos humanos se nos tratamos como máquinas?

Vivemos a tentar culpar tudo e todos no mundo pelas nossas acções quando os únicos culpados sobre o que acontece na nossa vida somos nós mesmos e enquanto não nos capacitarmos disso continuamos sem perceber o que se passa de errado. Não existem duas pessoas iguais, por muitas semelhanças físicas e psicológicas que possam existir entre duas pessoas, a mentalidade é singular, logo, não é possível, duas pessoas diferentes, sentirem a mesma felicidade ao fazerem a mesma coisa. Aquilo que pretendo salientar com isto é simplesmente que não nos podemos guiar completamente nos outros, a nossa vida depende de nós mesmos ainda que nos possamos inspirar com a dos outros. Acho que nos tornámos simplesmente demasiado preguiçosos para dar uso ao nosso cérebro e preferimos viver de acordo com o dos outros mas ainda assim dizemos não perceber o porquê da nossa infelicidade.

Precisamos urgentemente de um acordar mental, de um despertar pela vontade do conhecimento pois só assim pode existir evolução. Mais do que uma evolução social precisamos de uma evolução pessoal pois sem evoluirmos pessoalmente não conseguimos evoluir como sociedade. Precisamos de acordar para a nossa própria vida, reflectir sobre o nosso presente e se realmente é isto que queremos para a nossa vida e se não for então está na altura de lutar pelo que queremos que seja, dar uso ao nosso cérebro e lutar pelo que queremos sem desculpas ou receios. A vida é nossa e só nós somos responsáveis pelo que fazemos dela, está na altura de viver de acordo com o que cada um de nós quer e não de acordo com o que achamos que é suposto ou com o que os outros querem. Vivemos à procura da felicidade em todo o lado quando na realidade apenas precisamos de procurar dentro de nós próprios.

“Você nasce sem pedir e morre sem querer. Aproveite o intervalo” – autor desconhecido

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